Jean Rouch nasceu em 1917 na França. Formado em matemática e engenharia, doutorou-se em antropologia, sob orientação de Marcel Griaule (1898-1956). Fundou, em 1952, o Comitê do Filme Etnográfico, no Museu do Homem. Tornou-se um dos principais representantes do cinema etnográfico e do movimento cinema-verdade, tendo produzido mais de 140 filmes, em sua maior parte rodados na África Ocidental - destaque-se também o fabuloso "Crônica de um verão" (1961), encenado em Paris e co-dirigido com Edgar Morin. Realizou pesquisas sistemáticas entre os Songhay, grupo no qual Paul Stoller, destacado antropólogo estadunidense, autor de livro e de ensaios sobre Rouch, também procedeu às suas investigações. Rouch foi um dos principais precursores de experimentações etnográficas, colocando em questão divisões rígidas entre real e ficcional, sujeito e objeto, autor e produtor. Ao clicar em leia mais, tem-se acesso a um compilado de filmes e textos sobre o autor. Rouch morreu no Níger, em 2004, em acidente de carro.
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Em sua relativamente curta carreira acadêmica, subitamente interrompida por motivos de saúde, Michel-Rolph Trouillot (1949-2012) tornou-se um dos mais destacados intelectuais caribenhos. Suas contribuições reverberaram não apenas no âmbito da produção caribeanista, mas também em análises críticas do aparato conceitual mobilizado pela antropologia e pela história. Membro de uma família de intelectuais, Trouillot radicou-se nos Estados Unidos após as perseguições políticas do regime ditatorial de François Duvalier. Doutorou-se em 1985, no Programa de História e Cultura Atlântica, da Universidade de John Hopkins, onde lecionou antes de se transferir para a Universidade de Chicago. Sua obra foi publicada em francês, inglês e krèyol haitiano, versando sobre temas diversos, como a revolução haitiana, o campesinato da Dominica, as plantations caribenhas, Estado e globalização. Em português, sua alentada revisão da produção antropológica caribenha (Annual Review of Anthropology, 1992), que inclui análises de questões de ordem metateórica da disciplina, foi publicada em Afro-Ásia (nº 58, 2018). Veja-se também artigo crítico sobre a suposta excepcionalidade do Haiti, publicado em Vibrant (2020) Recentemente, sua obra mais conhecida, Silencing the past, foi traduzida por iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Unicamp. Nesse livro, Trouillot analisa os dividendos das partições ontológicas, políticas e teóricas pressupostas nas reflexões de intelectuais sobre a Revolução Haitiana. Acesse o livro, disponível para download, aqui. Como aparato crítico, veja-se resenha publicada em Cadernos de Campo, bem como texto de Dale Tomich, construído em diálogo com as principais teses de Silenciando o Passado. Nascido na Arábia Saudita, Talal Asad cresceu na Índia e no Paquistão antes de mudar-se para o Reino Unido, onde graduou-se em antropologia, na Universidade de Edimburgo, e doutorou-se, em Oxford, em 1968, sob orientação de E. E. Evans-Pritchard (1902-1973). Sua tese, baseada em trabalho de campo conduzido no Sudão, onde permaneceu por cinco anos, inclusive lecionando na Universidade de Khartoum, entre 1961-1966, foi publicada com o título de The Kababish Arabs: Power, Authority, and Consent in a Nomadic Tribe (London: Christopher Hurst, 1970). Sua obra é marcada por um diálogo crítico com autores-chave da disciplina e por um escrutínio das categorias mobilizadas pela antropologia e pelas ciências sociais. Asad atingiu ampla audiência já na década de 1970, com suas intervenções acerca da relação entre colonialismo e antropologia. A introdução ao livro Anthropology and Colonial Encounter (1973) foi recentemente traduzida em Ilha. Consulte aqui. Nas últimas décadas Asad tem se dedicado a tratar da categoria de religião, de suas conexões com a política e o poder, do secularismo e do secular. Sua já clássica reflexão sobre a categoria de religião foi publicada em Cadernos de Campo, precedida por pequena introdução de Paula Montero. Acesse o texto e a introdução. Volume da Revista Pensata conta com o artigo “Reflexões sobre crueldade e tortura”, originalmente publicado em Formations of the Secular, pode ser encontrado aqui. Mais recentemente, artigo sobre religião, política e religião no Egito contemporâneo foi publicado em Política & Sociedade. Acesse pelo link. Em termos de fortuna crítica, consulte-se artigo de Emerson Giumbelli, no qual o autor discute, e correlaciona, Asad e Latour. Mais informações sobre Talal Asad podem ser encontradas no seguinte blog (em inglês) Françoise Héritier nasceu em 1933 na região dos Alpes franceses. Formada em história e geografia, realizou pesquisa de campo em Mali e Burkina Fasso. Foi professora e pesquisadora da École des Hautes Études en Sciences Sociales e do Collège de France, onde sucedeu Claude Lévi-Strauss, na cadeira de Estudos de Sociedades Africanas. Héritier, falecida em novembro de 2017, publicou extensamente sobre parentesco, gênero e corpo, dentre outras contribuições. Suas obras e pesquisas exploraram criticamente temáticas analisadas pelo estruturalismo de Lévi-Strauss, de quem sofreu muita influência e também se distanciou teoricamente. Dentre suas obras mais conhecidas destacam-se L'Exercise de la parenté (1981) e Masculino/Feminino: o pensamento da diferença (1996), livro traduzido em Portugal. No Brasil está disponível a reconstrução da trajetória de Denise Paulme, publicada em Ilha, suas reflexões sobre novos modos de reprodução, disponível em Estudos Feministas, e artigo sobre A identidade Samo, povo com o qual conduziu pesquisa de campo, originalmente publicado no volume L'Identité (1977). Confira também entrevista publicada em Revista de Antropologia, em 2004. Sidney Mintz nasceu em 1922 em New Jersey, Estados Unidos, formando-se em psicologia em 1943. Após servir na Força Aérea durante a II Guerra, ingressou na Universidade de Columbia, onde foi assistente de pesquisa de campo de Ruth Benedict. Doutorou-se na mesma universidade em 1951. Ao participar de um grande projeto de pesquisa em Porto Rico, coordenado por Julian Steward (1902-1972), especializou-se nos estudos sobre o Caribe, sendo responsável por inovações teórico-metodológicas fundamentais para se compreender a região. Por meio dos estudos de sociedades de plantations, Mintz explorou questões relativas à teoria da crioulização, ao campesinato, trabalho, proletariado rural, parentesco, às feiras e aos mercados, dentre outros assuntos. Mintz tornou-se professor em Yale, em 1951, onde permaneceu até 1975, quando mudou-se para John Hopkins. É autor de obras seminais, como Worker in the cane (1960), Caribbean Transformations (1973) e Swetness and Power (1985). Além de sua produção sobre o Caribe e sobre as sociedades de plantations, que tiveram um impacto importante na antropologia brasileira, particularmente na antropologia produzida a partir do Museu Nacional, Mintz contribuiu de modo fundamental à antropologia da alimentação. Suas obras e artigos estabeleceram um intercâmbio frutífero com a história. Morreu em 2015, aos 93 anos de idade. Reconhecido por suas reflexões sobre o poder simbólico e a lógica da prática, Pierre Bourdieu (1930-2002) produziu trabalhos etnológicos pouco conhecidos, seja pelas inflexões da carreira do autor, seja pelo fato de suas experiências na Argélia e na região de Béarn (sudoeste da França) não serem tão difundidas quanto seus estudos mais consagrados sobre o gosto, a educação, a ciência, a política, a arte, dentre outras questões submetidas a seu escrutínio sociológico. Embora não existam traduções integrais de livros como Sociologie d'Algérie (1960), Travail et travailleurs en Algérie (1963) e Le déracinement (1964), alguns textos estão disponíveis em português. A “Casa Cabyle e o mundo às avessas” foi publicado em Cadernos de Campo. Acesse aqui. Destaque-se, sobretudo, o dossiê “Pierre Bourdieu no Campo”, publicado na Revista de Sociologia e Política (nº 26, 2006), que pode ser acessado neste link. O dossiê é composto de um panorama compreensivo de Loïc Wacquant, que busca revelar as raízes etnográficas da empresa teórica de seu grande mestre, e contêm textos de Bourdieu sobre a fotografia, a dominação colonial, a poesia oral na Cabília e sobre celibatários. Consulte-se também artigos que refletem sobre: a significação das experiências de Bourdieu na Argélia, entre 1955-1961, para o desenvolvimento das matrizes teóricas de seu pensamento sociológico (artigo de Gabriel Peters); o interesse precoce de Bourdieu por questões econômicas, como demonstra Marie-France Garcia Parpet em ensaio publicado em Mana; e a reconstituição da contribuição crítica de Bourdieu aos estudos de parentesco, notadamente à questão das trocas matrimoniais e do celibato, procedida por Klass Woortman em artigo da Revista Brasileira de Ciências Sociais. Nascido no ano de 1872, em Épinal, em família judia, Marcel Mauss realizou seus estudos na universidade de Bordeaux, onde seu tio, e mentor intelectual, Émile Durkheim, lecionava. Após finalizar seus estudos em filosofia em 1893, realizou estágios em várias universidades estrangeiras, aprendeu diversas línguas e estudou profundamente as escrituras hindus. Em 1901 assumiu a cátedra de Religiões de povos não-civilizados na École Pratique de Hautes Études. Anos depois, em 1925, fundou, juntamente com Lucien Lévy-Bruhl e Paul Rivet, o Instituto de Etnologia, e foi admitido no Collège de France, em 1931. Conhecido por seus canônicos textos acerca de categorias fundamentais do pensamento antropológico, como as noções de pessoa, corpo, dádiva e reciprocidade, Mauss talvez tenha sido o maior antropólogo a verdadeiramente cultivar o trabalho coletivo. Além de co-assinar textos com Durkheim, Fauconnet, Hertz e Hubert, dentre outros, foi resenhista incansável, dedicou imensos esforços à organização de volumes do Année Sociologique, e editou as produções de toda uma geração de intelectuais franceses, ceifada pela I Guerra Mundial. Marcel Mauss foi decisivo na formação de diversos antropólogos, de Lévi-Strauss a Griaule, de Denise Palmé a Louis Dumont. Faleceu em 1950 em Paris, abalado com os efeitos nefastos de outra guerra. Clique no botão à direita (leia mais) para acessar uma compilação de obras e de ensaios dedicados a Mauss Bronislaw Malinowski nasceu na Cracóvia em 1884. Após obter o doutoramento em física e matemática na Polônia, em 1908, interessou-se pela antropologia ao ler "O Ramo de Ouro", de Sir James George Frazer (1854-1941). Em 1910, foi admitido na London School of Economics (LSE) e tornou-se antropólogo. Na Inglaterra, Malinowski manteve contato com os maiores expoentes da disciplina da época, como Charles G. Seligman (1873-1940), figura fundamental na obtenção de financiamento da pesquisa de campo de Malinowski, para quem este último dedicou sua obra mais conhecida, Argonautas do Pacífico Ocidental. Sua pesquisa de campo coincidiu com o início da I Guerra Mundial iniciou sua pesquisa. Na Nova Guiné, Malinowski esteve, por seis meses, entre os Mailu, antes de seguir para as Ilhas Trobriand, onde permaneceu realizando pesquisa de campo intensiva por quase dois anos, intercalando suas expedições com estadias na Austrália. Logo após regressar à Inglaterra e retomar suas atividades docentes, publicou, em 1922, sua canônica monografia, Argonautas do Pacífico Ocidental. Cinco anos depois, foi indicado para a primeira cadeira de Antropologia criada na LSE. Já consagrado, lecionou e orientou toda uma geração de antropólogos e publicou outras obras importantes, como Sexo e Repressão na Sociedade Selvagem (1927), A Vida Sexual dos Selvagens (1929) e Jardins Corais e sua Magia (1935), obra nunca traduzida para o português. Malinowski morreu em 1942 em New Haven, onde lecionava na Universidade de Yale. A principal monografia de Malinowski foi publicada em português pela primeira vez em 1976, no âmbito da famosa coleção "Os Pensadores", da Abril Cultural. Mais recentemente, a Ubu Editora publicou nova edição. Quanto a Jardins Corais, um pequeno excerto dessa obra foi publicada no livro Textos Básicos de Antropologia, editado recentemente pela Zahar. Pesquise a Estante Virtual, entretanto, caso tenha interesse em livros como Um Diário no Sentido Estrito do Termo (São Paulo: Record, 1997) Saiba mais clicando no botão à direita (leia mais). Marilyn Strathern (1941) trabalhou em grande medida com nativos da Papua Nova-Guiné, tendo realizado pesquisa de campo de longa duração com os Hagen. Formada no Girton College, foi professora da Universidade de Manchester e da Universidade de Cambridge, onde lecionou por boa parte de sua carreira. É autora de diversas obras que exerceram impacto duradouro no âmbito dos estudos sobre a Melanésia e da teoria antropológica como um todo. A autora, agraciada com o título de Dame, também é conhecida por seus diálogos com o feminismo e por sua produção sobre o parentesco e as tecnologias reprodutivas no Reino Unido. Mais detalhes sobre as obras, artigos e entrevistas disponíveis em português podem ser visualizadas clicando-se em "leia mais". |
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October 2020
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