|
No menu "Livros" há postagens com detalhes sobre obras recentes
|
|
No menu "Livros" há postagens com detalhes sobre obras recentes
|
O povo parente dos Buracos. Mexida de prosa e mexida de cozinha Carneiro, Ana Rio de Janeiro: E-Papers, 2015. 410p. O livro, que resulta da tese de doutorado defendida em 2010 no Museu Nacional/UFRJ, é uma etnografia baseada em longa pesquisa de campo no município de Chapada Gaúcha/MG, sede do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Apesar da referência à obra-prima de Guimarães Rosa, Chapada Gaúcha deve seu nome à ocupação econômica e política da região por sulistas subsidiados pelo governo militar a partir da década de 1970. O povo dos Buracos já habitava a região antes da chegada dos gaúchos e hoje se encontra espalhado por cerca de quarenta casas, ligadas majoritariamente por laços de descendência e afinidade. Mas a “terra” dos Buracos - isto é, os contornos do espaço no qual se ordenam seus modos de viver e se relacionar - não se encerra neste território físico. Os dos Buracos movem-se, constantemente e desde sempre, conforme a circulação de suas palavras e pessoas. Como descrever este povo movente lançando mão do que seriam seus próprios procedimentos descritivos? Partindo desta pergunta, a autora, co-organizadora de Giros Etnográficos em Minas Gerais e co-autora de Retrato da Repressão Política no Campo, movimenta-se entre a escrita disciplinar antropológica e as práticas de prosa que foram, a um só tempo, “objeto” de análise e “método” através do qual os dados foram coletados. De fato, como atesta Marcio Goldman no prefácio da obra, o povo do Buraco fala de povo, de história, de sorte, de sangue, de família e de muitas outras coisas das quais a antropologia também fala. A autora demonstra como o povo dos Buracos fala da comida para falar sobre o não-dito, criando um jogo de sugestões, brincadeiras, rumores e humores que são suas próprias relações entre pessoas, casas, linhas de descendência e regiões. Assim, o “sistema” de circulação de prosa e comida diz respeito às formas particulares assumidas por “pessoas” e “povos”. A chamada “mexida de cozinha” ganha lugar central na análise, pois é instância fundamental por meio do qual as buraqueiras conceituam operadores distintivos. A última parte do livro debruça-se sobre as práticas femininas de conhecimento. Para a autora, é possível traçar uma linha de continuidade entre a movimentação de uma dada cozinha, ou seja, o sistema agenciado em torno de uma mulher em particular, e o que os buraqueiros chamam de “sistema do povo”, algo próximo do que cientistas sociais chamariam de sistema social. As mulheres, relativamente fixas em suas cozinhas, promovem as intensidades que são regentes da circulação de prosa e comida. Por conseguinte, como descreve a autora, a forma do “povo” atrela-se a uma “mexida”que a um só tempo cria o “sistema” e o submete ao eterno risco de desequilíbrio. Saiba mais detalhes sobre a obra aqui
0 Comments
Leave a Reply. |
|